Avulso é a tradução poética da dor infinita, mas não uma obra de lamúrias, senão de esperança, genuína esperança. Enlouqueci em 2016, vivi a experiência absurda em que minhas defesas foram ruídas e arremessoume diante do mais cru e sombrio universo de mim mesmo. Despenquei a queda mais funda e, espatifado e decomposto e desarrazoado, restoume recolher meus fragmentos e recriarme pela única via que se me abriu, a da palavra, pelo seu caminho escancarado com o farol dos temas decantados pelo sofrimento acachapante cravejado pelo transbordar da loucura. As membranas rompidas da distância entre mim e o mundo denotavam a total falência de minha singularidade, no entanto uma simples constatação resgatoume: ainda estou vivo! E este foi o pulsante alimento que, pouco a pouco, foi reavivando a minha força, não aquela força que é dita mas é fingida – a que se finge que não se quebranta, mas sim outra: aquela que diz imperativamente: Levantese, recriese, façase Poesia e seja a sua Poesia! Passo a passo, vou a encontrar meu destino, nunca pronto, nunca acabado, e também nunca estanque. Ainda me fio em palavras e traçome e rasurome e dou o tom para meus olhos mirarem cada momento com a radical esperança no amanhã.