HABITAREI O MEU NOME

Autor de fôlego épico, dicção hínica e vocação enciclopédica, a poesia de Saint-John Perse perde certamente alguma inteligibilidade, mas não o seu fulgor, com as cesuras que uma antologia desta natureza comporta. Salvo raras excepções, e ao contrário do preconizado antes dele por Poe e Baudelaire, Perse manifestou desde o seu primeiro poema a sua preferência por composições longas, privilegiando a continuidade temática dentro de cada obra, em detrimento do clarão breve de sentido fechado do poema curto. Por essa razão, uma antologia que se quer representativa de toda a produção do poeta não será capaz de reproduzir a continuidade ou o desdobramento de imagens dentro de cada conjunto, realçar os seus leitmotivs ou esclarecer a sua ténue trama dramática ou narrativa. Uma vista panorâmica como a que se pretendeu dar sobre uma das poesias mais originais e, ao mesmo tempo, mais representativas do século XX tem obrigatoriamente de se constituir sob a égide de uma diacronia prejudicial à sincronia. Mas precisamente devido à inconfundível e inimitável genialidade destes poemas, cada versículo, cada linha aqui antologiados são um espelho tão fiel como fulgurante de uma obra que não conhece limitações tanto ao nível macroscópico como microscópico.