Este livro não fala apenas da morte em si. Mas do fim de coisas triviais do cotidiano, fim este a que o autor imprime intenso lirismo. Tratando do não-ser, do não-estar, transitam pelas páginas temas como a umidade, o indefinido, as trevas, navios sem norte, a vastidão, transeuntes desgovernados, perfis indefinidos e os espelhos que esbarram na cinza, na noite, nas máscaras. Há também o vácuo e o vazio em poemas que abordam o corpo, os rios e o barro, nossa matéria primeira, e trazem os cacos como impossibilidade de se atingir o todo e o absoluto. Das sombras e do envelhecimento vêm os precipícios, tangendo o nada por que afinal, coisa alguma tem durabilidade. Mas esta consciência do poeta não cai no desespero, porque tudo é sustentado pela poesia mais a legítima, que oferece aquilo que é essencial num livro: fazer pensar sobre a transitoriedade da vida em que, atrás de cada gesto, algo definitivo nos rói, transformando- nos nestes seres perplexos, para quem a morte é um complemento, a argamassa do sentido.