O ÉDEN PERDIDO

SOMOS SERES SAUDOSOS. Tudo o que desejamos de belo, perfeito, bom, agradável ou, até mesmo, de mal pode ser visto como expressão de uma saudade inconsciente que em nós existe. Saudade de algo que um dia experimentamos e que novamente desejamos alcançar. Somos acometidos por uma ideia de constante retorno. Neste contexto, todo desejo é resultado de uma tensão gerada numa falta que, por sua vez, manifesta a saudade, isto é, o desejo de ter algo que hoje não tenho mais. A casa, o carro, a faculdade, a crença, a doutrina, o pensamento, a joia, o namorado, o sexo, a droga, enfim... Todo objeto de desejo é, na essência, um querer voltar. A vida, assim, é movida para frente por algo que ficou atrás. O que ficou para trás? O útero, o ventre, a placenta, o organismo materno? É dessa residência que temos saudade? Residência é aquele lugar (físico ou não) em que nos sentimos guardados, esquecidos da dor, protegidos, seguros. Esta é, possivelmente, a raiz de todo desejo que conduz a busca humana: voltar a residir num lugar em que já estivemos — o Éden Perdido.