Este livro, por intermédio de minuciosos estudos de caso nos quais se entrecruzam e dialogam as linhas interpretativas da história das religiões e das relações de gênero, concentra-se nas temáticas do matrimônio, das mulheres e das relações familiares a partir de fontes produzidas por instituições religiosas e judiciárias. O ponto de partida da análise recai sobre uma localidade específica, a saber, a comarca de Ponta Grossa (PR), entre as décadas de 1930 e 1940, período de profundas transformações sociais, políticas e culturais no Brasil, sentidas e ressentidas tanto nos centros urbanos quanto no interior do país. Municiado por pressupostos teórico-metodológicos fornecidos pela análise dos discursos, atenção redobrada recai sobre o escrutínio da trajetória e a atuação do bispo Dom Antônio Mazzarotto, sobretudo em sua defesa pela legitimação de um ideal de ¿matrimônio cristão¿. Entre estratégias e táticas, e a partir de um entrelaçamento de fontes e questionamentos que incidem sobre documentos eclesiásticos, encíclicas papais, cartas pastorais e processos jurídicos, o autor recupera as reverberações, nas tramas cotidianas de homens e mulheres comuns, dos intensos debates que, em múltiplas temporalidades, visavam a construção de sujeitos ideais a partir da incorporação de elementos morais e religiosos. Trata-se, sem dúvidas, de um estudo atento à historicidade do poder simbólico da moral cristã, de sua apropriação, inflexão e circularidade nas relações cotidianas e, destarte, das possibilidades de ação e negociação dos protagonistas históricos envolvidos na articulação entre a produção de formas de subjetividades e lugares sociais.