As investigações sobre travestilidades no Brasil não são de hoje, sobretudo escritas por nós, pessoas cis, e nosso desejo, consciente ou não, de falar sobre o que não somos. A tentativa, aqui, é de falar de um lugar (?) desenhado pelas estruturas colonizantes para o que "não está dentro da norma": a periferia, seja para um autor bicha preta, seja para cada travesti. Essa norma colonizadora estruturou saberes orquestrados para ditar o que e quem pode estar em determinados espaços. Nesse movimento, o cárcere é um desses espaços construídos politicamente para proteger a chamada propriedade privada com a punição a quem atenta contra ela, como a identidade, por exemplo. As travestis em sistema de cárcere lidam, mais uma vez, com as toxidades do Estado e seus controles todos, contudo, tentam vivenciar o cotidiano junto às táticas de hackeamento, o que nos dá pistas dos atravessamentos de afetos, desejos e resistências sob uma educação menor. Esta educação, pensada para além da formal, revela possibilidades outras dentro de estruturas marcadas pelos sistemas estatais em que existências travestis rasgam a ordinariedade do espaço.