A LÓGICA E O AMOR, E OUTROS TEXTOS

Esta reunião de textos da psicanalista e escritora Catherine Millot, subdividida em cinco seções alinhavadas à luz de sua história pessoal, compõe um quadro expressivo não apenas de sua formação filosófica e de sua entrada na psicanálise, decididamente marcada pelo divã de Jacques Lacan, como também de seus temas de estudo, com destaque para a leitura de obras literárias e o interesse pelos testemunhos místicos, em especial de mulheres. Escritos durante aproximadamente um quarto de século, iniciam-se no livro pela consideração da pintura reproduzida na capa, a qual, a partir de uma demanda recebida, impôs-se a ela em suas associações familiares e afetivas.

A segunda seção trata do valor e dos desdobramentos de encontros que lhe foram importantes no contexto parisiense das décadas de 1960 e 1970, em particular aquele de maio de 1968. Nota-se então a presença multifacetada sobretudo de Pierre Klossowski e Georges Bataille, conformando o que se traduziria posteriormente numa ampla interrogação sobre a “vontade de perda” e a “destituição subjetiva”. A isso se seguem cinco pontuações sobre a sua vida com Lacan, elaboradas em torno do amor, do desejo e da sexuação. Destacam-se nelas o testemunho sobre o ensino deste na Itália e as observações sobre a visita que fizeram a Martin Heidegger em 1975.

A literatura, seus efeitos sobre a subjetividade e a controversa questão acerca da legitimidade do que a psicanálise tem a dizer sobre suas manifestações compõem a quarta seção. Exemplificam-no a perspicaz retomada do texto de Sigmund Freud sobre a Gradiva, de Wilhelm Jensen, e do escrito de Lacan a respeito de O arrebatamento de Lol. V. Stein, de Marguerite Duras, bem como comoventes apreciações de obras de Jean Genet, Jean-Nöel Vuarnet, Philippe Sollers, Pascal Quignard e Pierre Pachet.

Por fim, a quinta seção se amalgama em torno de sua própria escrita, do que se diz ser a experiência e dos fenômenos tidos como despertares e epifanias. Seus fios condutores são a mística e seus relatos, cuja origem pode ser tomada à luz tanto do sagrado quanto do real, e a passagem do que se escreve para o público, da qual nem sempre o melhor destino, afastadas as imperícias e as imprudências de cada leitor, é a lata de lixo.