Talvez pudéssemos enganar-nos e julgar que, sem a graça, é fácil ser-se homem íntegro. Não negamos que seja possível, mas não é fácil. Primeiramente, devido à complexidade da nossa própria natureza, que é espírito e carne ao mesmo tempo; depois, pela lei da concupiscência, que, desde a queda original e por causa dela, acentuou a antinomia que verificamos entre as aspirações da alma e as necessidades do corpo. Porém, o que é sempre impossível e desafia, à priori, todas as forças humanas, até mesmo as forças iluminadas pela fé, é sobrenaturalizar, por nós mesmos, semelhante integridade e tornar meritório para Deus o mais insignificante dos nossos pensamentos, a menor das nossas emoções, uma palavra ou um simples gesto. Assim como a criança não pode atingir o sol com uma pequena pedra, assim também o homem não pode imprimir valor divino a qualquer dos seus atos. A intervenção divina é necessária. Só Deus, elevando-nos da terra com o sopro do seu Espírito, isto é, dando-nos a graça, pode permitir-nos transpor, num salto, a distância infinita que dele nos separa. Só Ele, depois de nos ter comunicado, pela fé, a sua própria luz, pode dar-nos força, fazer-nos participantes da caridade do seu coração, que nos permite viver da sua vida e que, fazendo-nos primeiramente homens íntegros a graça não destrói a natureza, mas aperfeiçoa-a, nos torna depois semelhantes a Si.