ADOLESCENCIA E ERRANCIA

Se como afirma Phillipe Áries, o século XX foi o século da adolescência, a leitura do livro de Luciana Gageiro Coutinho nos leva a pensar que ele ainda não terminou. Os adolescentes do século XXI não apenas continuam a representar um ideal social, como também ocupam o incômodo lugar de sintoma de uma crise que ainda não encontrou condições de superação. Suspenso em uma terra de ninguém entre o público e o privado, entre a infância (relativamente) doméstica e uma vida adulta a cada dia mais incerta, o adolescente é uma figura provisória que aprendeu a gozar de sua errância. Para ancorar sua existência fluida, num mundo que os convoca a realizar a forma mais exacerbada e impossível do individualismo ser idênticos apenas a si mesmos os adolescentes vão se enroscando por onde podem: formam hordas, bandos e fratrias que rapidamente se desfazem e dão lugar a novas hordas, bandos e fratrias.