ALEM DO ESPAÇO DE NOS MESMOS

A narrativa evolui num crescente envolvimento dos personagens, que vivenciam seu mistério particular no contexto de um mistério coletivo, como a vida é um labirinto coletivo dentro do qual nos inserimos com nosso mistério individual. Tudo isso com um estilo muito pessoal e envolvente, em que se destaca o uso de metáforas e simbolismos.
O mistério é o traço essencial da história. Na sua fabulação, lida com personagens que vivem no interior de uma casa de fazenda, que abriga várias gerações de uma mesma família, e sobre elas exerce forte atração, as domina, subjuga-lhes o destino, as destrói e as recria, até quando a narradora sugere uma relação física entre ela e outro misterioso personagem, sublimada num clima de lirismo.
Quanto à estrutura romanesca, Ana Clara Santiago inova com uma personagem-narradora, que vem do futuro para o passado e caminha do passado para o futuro, para vivenciar, como testemunha ocular e cúmplice, fatos vividos por ascendentes seus. Mesmo quando essa personagem-narradora está falando na terceira pessoa, sugerindo uma incomum distância de si mesma, ela interfere no texto, a marcar sua presença com comentários e digressões, o que é incomum na narrativa tradicional, mas é uma liberdade concedida a todo criador literário que não se limita a fazer mais do mesmo.