Piesse viveu no século XIX, antes de haver eletricidade nas casas, rádios, toca discos, cinema e televisão. Em troca, tinha mais tempo de convívio com seus familiares. Os carros eram puxados a cavalo, os navios tocados a vapor e os aviões ainda não roncavam no céu. Revolução Industrial, o Império Britânico estava orgulhoso de suas conquistas. No meio do século, foi erguido o Crystal Palace, uma edificação enorme, toda em vidro, para uma exposição que trazia produtos de todos os cantos do Império e representações de todas as indústrias: The Great Exhibition, de 1851. Nesta exposição, os olhos de Piesse viram tantas possibilidades, tantas condições de progresso em sua arte: se os ingleses plantassem mais flores, se pudessem colher mais aromas de países do Império onde o clima fosse favorável, se iniciassem o plantio na Austrália, onde seus irmãos tinham propriedades e exerciam cargos de importância política. Mesmo depois da morte de seu irmão, Piesse continuou sonhando com as fazendas de plantação de flores no continente australiano. As condições de trabalho eram bem diferentes, principalmente as técnicas de extração de perfume das flores, folhas, cascas e resinas que o perfumista utilizava. Confecção de sabonetes, talcos, vinagres, pastilhas, brilhantinas, águas e loções, na época em que perfume era mais usado no lenço, para ser levado ao nariz de vez em quando e disfarçar o odor do ambiente, ou nas luvas, no couro das bolsas e sapatos, para encobrir seu próprio odor, cassolettes de marfim com perfumes sólidos, todos elaborados com matéria-prima inteiramente natural. Perfumes que levavam almíscar, civet, âmbar gris, jasmim de Grasse, rosas da Bulgária, lavanda da Inglaterra. Em seus estudos diversos, Piesse encontrou relação entre os sons e os perfumes, e começou a falar em tonalidades, harmonias, acordes e notas. Inventou o ODOPHONE, um instrumento perfumístico em que se pode compor acordes para construir perfumes, em harmonia.