AS ESCOLAS CÍVICO MILITARES DO RIO DE JANEIRO

As escolas cívico-militares foram inventadas e ganham força num momento nacional de polarização política e disputas ideológicas entre a esquerda e a direita. Num trabalho com inspiração etnográfica, partimos da ideia de como a convivência civil-militar opera-se na elaboração e implementação de uma política pública de educação. Nossa sociedade hierárquica opera a convivência civil-militar para produzir diferentes sensibilidades cívicas mediante a inculcação da disciplina como obediência e da hierarquia como cadeia de comando por meio de dispositivos civis de educação como a escola, a partir das práticas militares durante a elaboração, implementação e execução da política. Já que há uma pedagogia das ordens e não a adesão às regras comuns. Na rede estadual de ensino do Rio de Janeiro, as escolas cívico-militares percorreram caminhos diferentes das experiências de vanguarda em outros estados da Federação, como Goiás. As categorias “disciplina” e “hierarquia”, ambas pertencentes ao mundo dos militares, ganham novos sentidos e passam a incorporar as práticas pedagógicas nessas escolas, sendo entendidas, dentre outros, no sentido de garantia de sucesso para o processo ensino-aprendizagem. Num universo de contradições, disputas, dilemas e paradoxos envolvendo a Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC-RJ) e os demais órgãos que participaram do processo de criação e implementação das escolas cívico-militares no Estado do Rio de Janeiro, é possível vislumbrar, ao descrever um pouco daquilo que não é oficialmente escrito ou dito pelos canais oficiais, o quanto existe e qual a dimensão dos limites e possibilidades desse tema, para além da ponta do iceberg.