AS MÚLTIPLAS FACES DA COMISSÃO DE FRENTE DA ESCOLA DE SAMBA NO CONTEXTO DA ÓPERA DE RUA (1928-1999)

No livro “As múltiplas faces da Comissão de Frente da Escola de Samba no contexto da ópera de rua (1928-1999)”, o autor nos conduz pelos caminhos iniciais da formação de manifestações populares como: as Grandes Sociedades, os Ranchos, os Blocos e os Cordões até chegar às Escolas de Samba. Neste percurso, conhecemos também um pouco da história da cidade do Rio de Janeiro, cenário destas manifestações e polo difusor da cultura do samba em escala nacional. Elizeu realizou uma meticulosa pesquisa documental, fartamente ilustrada com passagens que revelam os caminhos trilhados pela Comissão de Frente até se tornar o instigante espetáculo dentro do espetáculo que ela hoje representa. Do modelo mais tradicional às gigantescas e elaboradas composições cênicas, o autor nos provoca questionamento acerca da transformação deste setor tão vital da escola de samba que tem a função metonímica de apresentar a agremiação carnavalesca abrindo o desfile, num momento cheio de impacto visual, o enredo ali sintetizado por coreografias, elementos alegóricos e figurinos elaborados. Sua experiência como julgador de desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial da LIESA/RJ acentua a intimidade com que trata a temática, bem como a análise crítica obtida através do conhecimento detalhado dos regulamentos e das planilha de notas dos julgadores, que ele sensivelmente transforma em fontes documentais. O autor, ao discorrer sobre a identidade e o papel da Comissão de Frente, nos leva a pensar nos conteúdos simbólicos da escola de samba e suas transformações sutis e no quanto o desfile e suas reinterpretações foram transportados ao patamar de mega espetáculo. Impacto, superação e clímax traduzem o momento de intensa expectativa no ato das apresentações, tanto que hoje suas performances e estratégias cênicas são objetos de segredos guardados a sete chaves. As Comissões de Frente resguardam a antiga prática dos mistérios carnavalescos que antecediam a apoteose na avenida. Hoje vivemos a era dos protótipos amplamente divulgados e das alegorias gigantescas, um tanto recorrentes. Mas a Comissão de Frente mantém o seu mistério lúdico e o seu poder de carregar a emoção primeira do desfile, cronometrada matematicamente passo a passo, repetida exaustivamente em ensaios e brilhantemente encenada como se ela própria fosse toda uma escola dentro da escola maior. É deste encanto, mas também destas questões que equacionam: espetáculo, memória, poder e arte que trata este livro, e sobretudo de mudanças sistemáticas que ocorrem para que o espetáculo possa oferecer a ilusão de continuidade e, especialmente, a certeza de que a competição pela vitória continua sendo decidida em décimos, palmas e gritos de “é campeã!”