O mito e a história não se opõem, pois, mesmo irredutíveis entre si, são dois modos complementares da forma como os seres humanos foram capazes de viver finita e temporariamente a realidade do sagrado, produzindo, a partir de suas concepções, culturas e civilizações que quiseram conservar essas vivências. No entanto, as reflexões teológicas e filosóficas a respeito do fenômeno do sagrado nos últimos tempos foram obnubiladas por distorções preconceituosas que, baseadas ou em pretensa emancipaçãototal da natureza humana ou no absurdo da existência, deixaram de lado a experiência do tempo cíclico, a filosofia como forma de vida tradicional e a possibilidade da metafísica como sabedoria universal. Contribui para tais distorções também a pretensão cristã de confinar a experiência religiosa a estruturas rígidas. Para superar tais obstáculos, este livro volta-se a campos preteridos pela investigação universitária atual: as vivências inefáveis do sagrado, o cultivo secreto do sagrado e suas irrupções espontâneas em grupos religiosos da época presente.