15 de maio de 1892. Na segunda página do jornal O Paiz aparecia pela primeira vez a coluna "Bilhetes Postais", assinada por um certo " N.". Sob o pseudônimo escondia-se o já renomado escritor Henrique Maximiano Coelho Netto, autor das crônicas ligeiras destinadas ao público feminino que apareceriam naquele espaço nos meses seguintes. A aparente frivolidade dos textos, escritos não por acaso ao longo dos dois anos mais duros do governo de Floriano Peixoto, acabou por garantir ao escritor uma razoável liberdade crítica. Ainda que escrevendo em um jornal assumidamente simpático ao governo republicano, ele soube conferir às suas crônicas um caráter dúbio, no qual a leveza dos temas acobertava muitas vezes duras censuras ao regime que tanto defendera em anos anteriores. Conseguia, com isso, intervir a seu modo nos conflitos políticos deflagrados no período, garantindo tanto um espaço de afirmação de seus ideais quanto a possibilidade concreta de sobrevivência. A série "Bilhetes Postais" acabou constituindo-se para ele, neste sentido, em uma trincheira de luta cotidiana, permitindo-lhe um espaço para expressar por formas diversas seu descontentamento com questões políticas e sociais do período e sua visão pessoal sobre outros temas cotidianos presentes no momento - constituindo-se, por isso, em um rico testemunho sobre os primeiros anos da República na capital federal.