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Sinopse
A metáfora da brincadeira infantil, que leva ao medo e à adrenalina, ganha contornos de covardia. A venda nos olhos, usada para impossibilitar ou obscurecer nossa lucidez.
As vendas vão além; não se limitam aos olhos. A brincadeira infantil está no corpo dos personagens, como em um filme, ora em câmara lenta, ora em rápidas passagens. Uma história crua e fragmentada. Relatos de sofrimento, de desamparo, de miséria humana.
Os leitores são contagiados pela dor logo nas primeiras páginas e verificam, no esconderijo de algumas percepções, que as principais amarras são as construídas pela ignorância e pela miséria.
É a cabra-cega tateando, no escuro, perdida, o tempo todo, na selva de seu mundo interior.
Alguém querendo agarrar uma oportunidade para mudar de vida.
Quem vive em um labirinto tem desejo de encontrar saídas.
Para fugir é preciso coragem, um pouco de loucura e muita fé.
1
Lamentar uma dor passada, no presente,
é criar outra dor e sofrer novamente.
(William Shakespeare)
O tiro pegou no meu peito. Do lado direito, abaixo da axila. Se fosse mais para a esquerda, por certo eu não teria sobrevivido, mas livrei-me da morte. E não foi essa a primeira vez.
Naquele dia, éramos cinco adolescentes reunidos. E meu primo Cicinho, com sua espingarda de chumbo, mirava para o meu lado sem parar. Não tive como fugir.
Para ele era uma brincadeira.
Por ter enfrentado a morte tantas vezes, tornei-me íntima dela. Talvez por isso a morte tenha resolvido me dar mais e mais anos de vida.
Meu nome de batismo é Maria Divina de Oliveira, mas cresci escutando todos me chamarem de Vina. Nasci no sítio Pelego Velho, município de Arapiraca, estado de Alagoas, no ano de 1959.
Aqui estão as anotações de uma vida inteira. Memórias alinhavadas pelo cadarço encardido dos meus sapatos rotos. O que me foi contado ou me lembro, ou vivi e senti.
Meu pai, Genilson Ribeiro de Oliveira, pardo, agricultor, nunca frequentou escola. Era inteligente e trabalhador, pelo menos na juventude. Minha mãe, Severina da Silva Oliveira, negra, dona de casa, analfabeta, também trabalhava na agricultura. Os dois tiveram 23 filhos, mas apenas 12 se criaram. Seis homens e seis mulheres.
A história do casamento da minha bisavó, que era índia, começou quando soltaram um cachorro bravo para que a pegasse a dente, e meu bisavô paterno, português, casou-se com ela. Já meu bisavô materno, brasileiro, negro alforriado, casou-se com mulher branca dos olhos verdes. Dez dias antes do casamento, recebeu o comunicado de sua convocação para lutar na Guerra do Paraguai, aos 20 anos. Com ele foram vários jovens brancos, de diferentes classes sociais, e negros. Estes eram escravos. Pelo menos eles tinham um sonho: voltar e receber a carta de alforria, o que nunca aconteceu. Meu bisavô juntou-se às tropas no dia do seu casamento. Terminada a cerimônia, os guardas que estavam na porta de sua casa o levaram. Antes, porém, ele trancou minha bisavó no quarto e pediu para que a soltassem quando ele estivesse longe. Voltou nove anos depois, porque ficou preso, sem explicação, em uma cidade na divisa do Brasil com o Paraguai. Talvez porque tenha passado um bom tempo mudo. Os traumas eram tantos que ele tinha medo de falar e de dormir. Tremia de pavor com o barulho de trovões, de gritos, de choro. Mas se curou desses males quando, certa manhã, resolveu colher os primeiros raios de sol na concha das mãos e beber aquela luz. Com os olhos fixos no céu, pediu a Deus que o guiasse até sua casa.
Ficha técnica
Especificações
ISBN | 9786558640684 |
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Pré venda | Não |
Peso | 300g |
Autor para link | CANTANHEDE GRACIA |
Livro disponível - pronta entrega | Sim |
Dimensões | 22 x 16 x 1 |
Idioma | Português |
Tipo item | Livro Nacional |
Número de páginas | 169 |
Número da edição | 1ª EDIÇÃO - 2021 |
Código Interno | 1086826 |
Código de barras | 9786558640684 |
Acabamento | BROCHURA |
Autor | CANTANHEDE, GRACIA |
Editora | GRACIA CANTANHEDE |
Sob encomenda | Não |