A originalidade da empreitada intelectual de Balieiro começaao propor – por meio da análise da carreira de Miranda –uma leitura alternati va sobre a nação brasileira que problemati zaa interpretação dominante nas ciências sociais de que nossoimaginário nacional teria se reconfi gurado por volta da décadade 1930 no diálogo entre intelectuais e Estado. Na visão deBalieiro, é a ascensão do mercado midiáti co de massas a parti rdos anos vinte que reconfi gurará a imagem dominante sobre oBrasil de um país que queria se imaginar branco e europeizado,apagando as marcas indígenas e africanas de sua cultura, paraa de uma nação que celebraria em música e imagem suasingularidade.[...]Carmen Miranda encarnava essa branquitude tropical e,mesmo tendo nascido na Europa e sendo loira de olhos verdes,bronzeava-se na praia e se dizia bem brasileira, cantandosambas que falavam da vida das classes populares negrase mestiças. Seu passo decisivo nesta incorporação performáti cado nacional foi vesti r-se de baiana para números musicais nocinema e no teatro musical. Seu gesto não foi recebido sempolêmica, algumas recusas e até desqualifi cações, mas se entrenós a fi gura da baiana incomodava a elite que buscava disti nçãoem relação ao seu próprio povo, nos Estados Unidos foi recebidacomo uma imagem lati no-americana. Assim, Carmen era baianaaqui e lati no-americana lá, carregando signos de dois contextosculturais em uma só performance.Do prefácio de Richard Miskolci