Uns poucos minutos despreocupados de uma tarde festiva nos anos trinta, em uma confeitaria de San Moritz. Nesse breve intervalo, todo o enredo se resume e se desenrola diante de uma xícara de chocolate com que um menino levemente estrábico lambuza a boca. Então o leitor é levado a todas as minúcias da tessitura deste romance. A menina Lorenza, provável alterego da autora, vive com sua família de intelectuais na Itália. Seu pai é cientista e professor universitário e tem um grande amigo, Arturo, um jovem cientista judeu, freqüentador assíduo de sua casa. Um dia, Arturo desaparece. Com a eclosão da guerra, a família se hospeda na Suíça, na casa da avó, Madame Arnitz. A princípio, os ecos da guerra soam longínquos, mas pouco a pouco invadem os ouvidos e corações da família de Lorenza. Quebrando aquela idílica tranqüilidade suíça, Arturo reaparece e é acolhido pela família. Arturo é um judeu inconformado com a resignação que prevalece entre seu povo e se rebela contra a piedade oferecida aos submissos. Não quer se sentir vitimado, não aceita ser apenas um hóspede, quer participar do grupo que o acolhe, merecer prestígio, amizade e amor. Ele será não apenas o homem por quem as meias-irmãs Isabella e Margot se apaixonam, mas o judeu a quem a família protege, esconde, inconscientemente ou não, na luta contra o terror nazista. E progressivamente, os personagens, através de Margot, vão tomando consciência dos horrores do racismo e do anti-semitismo que vigoravam na época. A literatura de Rosetta Loy é marcada pela história, não apenas familiar e afetiva, mas também política. A autora pertence à geração que atravessou a Segunda Guerra, e desde seus primeiros livros manifesta o tema: o peso devastador do fascismo sobre toda a Itália do pós-guerra. Através da história de uma família, de uma narrativa repleta de afetividade e humanismo, Rosetta Loy escreveu, segundo a crítica internacional, o primeiro grande romance sobre o fascismo e a deportação desde a obra de Primo Levi.