"Este livro toma como ponto de partida o romance Água viva, de Clarice Lispector, originalmente publicado em 1973, um exercício de radicalização da linguagem influenciado pelo pensamento pictórico no qual o rastro material do processo de criação e a possibilidade de uma expressão não-verbal são colocados em pauta.
Discutindo o romance enquanto gênero literário, propõe-se uma comparação entre as linguagens literária e pictórica suscitada pelas constantes sugestões ao universo da pintura presentes em Água viva. A comparação entre o romance em questão com expressões artísticas consolidadas na década de 1970, como o minimalismo, a arte-processo e a arte conceitual – que colocaram a pintura em xeque, desencadeando um amplo ataque ao ilusionismo – revela as tensões entre arte e realidade nos projetos estéticos da contemporaneidade. Os debates em torno da chamada “morte da pintura” auxiliam a compreender os movimentos dialéticos de Clarice Lispector, alternando afirmação e negação da arte em uma de suas obras de maior experimentação, um romance que se dispõe a refletir com complexidade sobre a crise das representações. "