CODINOME ANANCY

Anancy está aí do seu lado, sim, ali mesmo, olhe, você a viu hoje no metrô, de soslaio, no olhar que lhe passa quase que despercebido no canto dos olhos, no cabelo displicentemente jogado atrás da orelha, no perfume suave que não se encaixa no personagem, na frase dura e seca quando é encontrada, pois é o seu escudo, no espelho que você olha cedo e não reconhece a figura refletida que lhe desagrada; sim, ela está lá no reflexo da vitrine que você acabou de olhar, na chuteira nova do menino que você observa disfarçado, no jogo de futebol que você assiste, mas não sabe o que está acontecendo, no desejo de poder correr livre e sentir o vento no seu peito desnudo, no fio de barba que lhe nasceu e que, para uns, lhe aterroriza e, para outros, é um presente; está na bolsa da menina, na sandália que lhe chama a atenção ao lado do tênis, na curvatura do seu corpo ou na ausência dela, no anel do dedo, no cabelo raspado ou no cabelo displicentemente jogado pro lado que, quando lhe indagam, a resposta é "Nossa eu nem havia notado", no modelo de calça nova que você se recusa a comprar, na bermuda mais larga que, com certeza, ninguém notará a diferença, na unha que cresceu pra mais e na unha que fora cortada no cotoco, no filme que você assiste e em segredo se imagina como aquele ou aquela personagem; está no seu sonho, no seu desejo profundo, nos pensamentos mais profundos de seu ser e, sim, antes de tudo, está no seu subconsciente, gritando e arranhando com suas oito patas pontiagudas o véu grosso e sufocante que lhe prende dentro de si mesma, na força, no desespero e na agonia que ela finalmente consegue romper o grosso véu que lhe aprisionara por toda uma existência, uma longa pata pontiaguda rasga o véu…