Nesta obra Paul Valadier traz-nos, pelo menos, três contribuições importantes. Primeiramente coloca, de uma forma bastante clara, a forma como a condição cristã não apaga a condição humana comum, em matéria de moral, lembrando que o Evangelho não engendra uma moral monolítica que nos colocaria fora do mundo. Em segundo lugar, faz a ronda pelas diversas autoridades, que podem guiar a nossa consciência moral, entre as quais a autoridade do Evangelho continua suprema e situa em consequência as diversas autoridades de ministério, próximas e afastadas. Em terceiro lugar, resiste à inclinação para uma evacuação de consciência pessoal em benefício de regras supostas tudo reger. Ora, se os sociólogos contemporâneos têm razão ao detectar uma espécie de "fadiga de ser-eu", segundo a maravilhosa fórmula de Ehrenberg, a tradução religiosa e católica desta síndrome empurra para o integralismo, ao repouso nas regras feitas, à prioridade da obediência às autoridades mais visíveis. A teologia moral católica, até ao Vaticano II e para além dele, ficou impregnada de juridicismo. Sair, é cultivar o discernimento a respeito dos costumes contemporâneos, seguindo o exemplo de S. Paulo, e não os desqualificar em bloco. Eis aqui, em poucas palavras, um contra-veneno bastante útil a quem estivesse tentado em crer que "o julgamento condena (irremediavelmente) todo o campo", ou melhor que ele é de todas as maneiras "demasiado tarde". A profundidade histórica das análises de Valadier faz-nos sair de ummau processo da modernidade, típico "da intransigência" do qual, recentemente, Émile Poulat fez a história. A emancipação do político, do campo artístico do domínio social de uma ambiência de cristandade onde a Igreja impregnava a totalidade de uma cultura não significa a derrocada de todos os valores. A inelutável inculturação arranca, em parte, da necessidade, para o cristianismo, de "reencontrar" as suas marcas? Fora de uma nostalgia do "fogo da cristandade", como dizia Emmanuel Mounier.