CORPO E CLÍNICA PSICANALÍTICA

Observa-se na prática clínica psicanalítica o aumento de demandas de análise de sujeitos que utilizam o corpo como meio de expressão do sofrimento psíquico. Tal constatação, aliada ao interesse pela tese do sintoma como acontecimento de corpo, apresentada por Lacan (1979), motivou este trabalho, convocando a autora à formalização de um saber teórico capaz de nortear o fazer clínico. Ao ampliar o entendimento de como o corpo se apresenta nas expressões sintomáticas da atualidade, elabora-se um mapeamento conceitual sobre os sintomas tanto em sua dimensão simbólica, na qual Lacan corrobora as ideias de Freud, pois alega que o sintoma é uma mensagem inconsciente, quanto em sua dimensão pulsional, na qual o sintoma é entendido por Lacan como um modo de gozo, dimensão da escrita e do real. O estabelecimento de um quadro diferencial das incidências do sintoma no corpo, assinalando o objetivo principal, é a resultante vigorosa de um recenseamento histórico-crítico robusto das fronteiras éticas e epistemológicas da clínica psicanalítica. Ao explorar a timbragem traumática do acontecimento de corpo, esmiuçando seus regimes de aproximação, pela letra, pelo semblante, pelo objeto e por lalangue, demonstra-se a condição paradigmática dessa expressão para o reequacionamento da problemática do corpo na clínica e na teoria psicanalítica contemporânea. Em diálogo constante com a prática, a autora realiza um retorno a conceitos importantes, constatando que o sintoma psíquico, capaz de afetar o somático e que muito cedo despertou o interesse em Freud levando-o à constituição da psicanálise, percorre um longo caminho até chegar ao final do ensino de Lacan na forma de acontecimento de corpo. Ante o instante de ver freudiano, depurado pelo tempo para compreender, o sintoma, deixado no que ele é – um acontecimento de corpo –, traz o momento de concluir do ensino lacaniano, tornando vivo o convite de Freud e de Lacan: para que a psicanálise avance faz-se necessário que os analistas arrisq