Uma das mais famosas relações entre pai e filha - a correspondência trocada durante 34 anos por Sigmund Freud, pai da psicanálise, e Anna Freud, a caçula dos seus seis filhos e a única a seguir seus passos - é um panorama da intimidade da família Freud ao mesmo tempo em que compõem um registro único da gênese e do desenvolvimento da psicanálise. Encontram-se nas cartas impressões sobre a vida em família, nascimentos e mortes, problemas de saúde, o fantasma do nazismo e da guerra, a convivência afetiva e intelectual entre pai e filha, as pesquisas de Freud e, posteriormente, também de Anna, além de um mosaico sobre as pessoas que permearam essa convivência, como alunos, amigos e colegas de trabalho. Acompanha-se, sobretudo, o desenvolvimento do demônio negro , apelido pelo qual Freud chamava a filha mais nova, de quem foi psicanalista. De criança problemática e precoce, Anna passou a mulher independente e determinada, que subverteu as convenções sociais da época. Analista mundialmente reconhecida, foi a grande guardiã do legado intelectual paterno - legado que ela aprofundaria e desenvolveria, sobretudo no campo de estudos da psicanálise infantil. A Correspondência oferece ainda um painel da cultura da época, retratando uma família judia de classe média nas primeiras décadas do século XX e revelando as belas paisagens da Áustria, Inglaterra, Hungria e Itália.