Este livro surge clássico para uma nova historiografia no Brasil. O historiador norte-americano Marc Hertzman não se perde em polêmicas (muitas bem intencionadas) sobre mistérios, invenções e autorias do samba carioca no alvorecer do século xx. Ao focalizar os músicos negros, aumenta o volume e vai direto aos andamentos políticos, culturais e ideológicos que davam o tom da cultura urbana negra das primeiras décadas da pós-emancipação. O Rio de Janeiro, a mais densa cidade atlântica, reconhecia e excluía práticas diaspóricas enquanto ensaiava narrativas e inventava espaços, significados e identidades. Em ritmo cadenciado encontramos um mercado imperfeito de músicos, entretenimento, produção teatral, crítica musical e formas variadas de consumo. São nas interfaces de raça e de gênero – numa cronologia ampliada da pós-abolição – que o autor descortina cenários e atores. Indo além das biografias dos mais importantes sambistas e suas composições, Marc vai investigar debates, ideias, ações e símbolos para localizar processos e experiências, produzindo uma complexa história social que cada vez mais exige abordagens multivocais no manuseio de fontes, aparatos teóricos e conexões historiográficas. Este livro se junta a uma tradição sonora e literária de pensar o Rio de Janeiro a partir da sua agência política e produção cultural, reconhecendo personagens, embates, apropriações e narrativas. Há muita coisa para ler, ouvir, cantar e dançar. E aquilo que era só pergunta vira rima, De onde vem o samba, que produz o show e assina a direção.