DESCOMPASSO

Um dos segredos do Carlitos não era o rosto branco ou o bigode, a bengala e o chapéu, mas o jeito de andar desengonçado, que denota sua origem circense e como ele se movia diferente do resto da sociedade, balançando entre a empatia e a marginalização, por causa da sua pobreza. Um descompasso.

Os textos escolhidos para a obra de estreia de Luis Fonsseca estão num passado transformado em memória que os trazem um pouco mais próximos de nós, e, de certa forma, soam atuais: eles não foram contados quando ocorreram, hibernaram e apenas agora reapareceram, porque muitos desses personagens marginalizados esperaram para que nossa sociedade pudesse ouvi-los. Um descompasso.

Essas histórias não são cômicas como as de Chaplin, nem têm os traços circenses. São urbanas, algumas vezes duras, mas compartilham outro segredo do Carlitos, talvez o principal: são essencialmente humanas.

Descompasso é uma coletânea de estórias que retratam o desconcerto e inadequação de personagens no mundo em que vivem. A escrita de Luis Fonsseca desconstrói estórias e constrói narrativas, tecendo passado e contemporaneidade sobre fatos e sentimentos.