'Desenhos a lápis' de Oleg Almeida é uma espécie de diário lírico em que o autor relata, de forma simples e convincente, as impressões reais e, ao mesmo tempo, oníricas que lhe suscita a cidade de São Paulo, sua vida cotidiana, sua beleza e seus contrastes: uma estranha declaração de amor a Pauliceia que o 'marcou, para todo o sempre, com sua aparente frieza e seu calor subjacente'... O artista desenha a lápis para traçar um esboço. Pretende que seja rascunho. Com o tempo e a vivência, o desenho pode ser apagado e refeito, ou reforçado e arte-finalizado. Como esboço ainda, é registro da impressão, não da convicção. O olhar do artista que testemunha cenas, pessoas, situações, neste livro, pertence ao poeta que observa de fora, estrangeiro quase, e é tomado de estranhamento por aquilo que toda gente vê, ao passar, e não enxerga. Ou não quer enxergar, gente anódina, álgica, autômata. Que assim é, se fez ou foi feita. Nesta coletânea de poemas breves, temos um mapa. Aleatório. Mosaicista. Os olhos verdes do mendigo – hosana, há mendigos de olhos verdes! O medo mais que mitológico da São Paulo que esmaga seus habitantes – de aço, concreto, obscuridade e medo; hipocrisias, couraças, egoísmos. Porém, há esperança, sinceridade e luz em quase tudo: grafites, multidões, praças, solidões, gírias, prisões, crenças. O poeta veio de fora, mas olha por dentro. E nos ajuda a enxergar a cidade que nem sequer vemos.