O Destino do Eu analisa e discute o conceito de indivíduo em íntima articulação com o tema do individualismo em geral, incidindo preferencialmente nas formas de que este se reveste no mundo contemporâneo. Reconstitui-se assim o nascimento da noção moderna de indivíduo, a partir da sua "invenção" no século XIX pelos hegelianos de esquerda: Max Stirner, Feuerbach e Karl Marx, que a criam a partir da desconstrução sistemática e metódica do hegelianismo, então hegemónico. A emergência desta noção moderna atribui-se à Alemanha do século xix, mas o tema é tão antigo como o homem, e conheceu destaque no neoplatonismo com Plotino, passando, entre outros, por Santo Agostinho, Leibniz e Descartes, para chegar a Kant, que funda uma noção de cidadão compaginável com os propósitos da Revolução Francesa. Esta "dupla nacionalidade" da noção de indivíduo - por um lado cidadão da república igual a todos os outros (uma cabeça um voto); por outro ser único e irrepetível totalmente diferente dos seus semelhantes e que persegue os seus próprios fins (que é a concepção stirnerneana, e também, actualmente, neoliberal), é apontada como fonte de muitas das contradições e angústias que vive o indivíduo moderno.