DO SERTÃO À FRONTEIRA AGRÍCOLA

A compreensão da ideia de sertão é um interessante debate que povoou as discussões no âmbito da geografia e de outras ciências humanas e literárias sobre as muitas interpretações que esse topônimo engendra. No caso da geografia, o debate a respeito dessa temática envolve diversos aspectos, desde a sua composição natural e dos modos de vida das populações regionais até a composição da ideologia geográfica. O sertão, entretanto, corresponde a um amplo espaço que, embora apresente imprecisão do ponto de vista da delimitação de sua extensão territorial, desde o início do período colonial presenciou o avanço de forças modernizadoras, mediante mecanismos de extrema violência, com a intenção de explorar as suas riquezas naturais, garantir força de trabalho compulsória para o projeto metropolitano português e exterminar os povos originários que habitavam os seus variados ambientes. A constituição da fronteira agrícola, por sua vez, nos moldes em que se visualiza hoje, remonta aos anos 1970, quando o Estado planejador brasileiro organizou políticas de ocupação para o desenvolvimento de novas atividades econômicas, sobretudo a partir de monocultivos agroflorestais, exploração madeireira, pecuária e exploração mineral, todas elas em larga escala e atreladas à demanda dos mercados consumidores interno e externo. Esse amplo espaço geográfico hoje denominado fronteira agrícola abrange, predominantemente, o Cerrado e Floresta Amazônica e as suas áreas de transição (ecótonos), sendo eles também portadores de uma ocupação variada de flora e fauna. Vivem no espaço da fronteira agrícola um elevado contingente da população brasileira, em áreas urbanas e rurais. Nas áreas rurais espalham-se populações portadoras de modos de vida variados. São pequenos proprietários, indígenas, ribeirinhos, geraizeiras, babaçueiras, comunidades de fecho e fundo de pasto, quilombolas etc.