Estas duas pequenas histórias buscaram inspiração no repertório de contos e anedotas populares. Mas trazem de original uma dose de imprevistos e de situações absurdas surrealistas mesmo que nos fazem dar boas gargalhadas. A primeira, parece trazer o típico mote do rico fazendeiro enganado pelo astuto, mas não é bem isso; pode-se dizer que é um homem enganado por si mesmo; quem mandou confiar em poderes mágicos? A segunda se assemelha, pela estrutura, aos conhecidos contos de encadear, ou de acumular, em que o protagonista vai trocando sempre uma coisa pela outra; a maior graça dela advém, no entanto, dos incríveis objetos trocados e da reação de quem os troca. Nas duas histórias estão presentes personagens e cenários do folclore brasileiro (o fazendeiro, a roça, o cigano de feira, o tropeiro, o violeiro) misturados a referências históricas, modernas ou antigas, como o burro que carregou o Menino-Jesus, o que carregou Juscelino e a Copa do Mundo. Às virtudes mágicas tradicionais de contos de fadas (pato que bota moedas de ouro, viola que toca sozinha, cavalo invisível) juntam-se novas, hilariantes, como o burro que fala 432 línguas. É a desmistificação dos poderes encantados, pois nenhum deles parece servir para nada; na verdade,a mágica mesmo parece ser o jeito esse bem brasileiro de resolver as situações com bom-humor e criatividade.