Um dos efeitos mais perversos, embora esperados, da ascensão da extrema-direita nos últimos anos foi ter deslocado parte significativa do que se entende genericamente como campo progressista a uma posição de defesa abstrata de instituições de Estado, o que, no campo acadêmico, tende a provocar certo recuo ou apagamento de problemáticas teóricas efetivamente críticas das estruturas de dominação de sociedades em que domina o modo de produção capitalista. O que se passa nas discussões sobre Educação é um caso emblemático. Face a reformas e ataques oriundos de ideologias neoliberais, conservadoras ou neofascistas, é comum que análises tomem a forma de denúncias que, mesmo “críticas”, estão informadas por problemáticas humanistas que, a rigor, se limitam a radicalizar “valores estruturais”, como diz Décio Saes, da ideologia dominante. Tudo se passa como se, sem desvios ou ataques, o papel transformador ou emancipador da educação pudesse ser recuperado. Na contramão desse movimento, o livro organizado por Lucas Pelissari oferece uma excelente oportunidade de contornar essa cilada. Ao reunir intervenções orientadas pelo marxismo estrutural, especialmente legado por Louis Althusser, o livro recupera conceitos e teses de uma corrente materialista que, nos estudos sobre Educação, foi alvo de constante rejeição ao ser sumariamente desqualificada como teoria “reprodutivista”. Não se trata de ignorar, é claro, que essa corrente também exige permanente desenvolvimento e aprimoramento. Trata-se, em vez disso, de explorar a potência e atualidade do marxismo estrutural que ousou, e ainda ousa, superar a problemática do humanismo teórico e, com isso, escapar das armadilhas impostas pelos efeitos pertinentes de ideologias que, estas sim, explicam a reprodução estrutural da exploração capitalista. Sávio Machado Cavalcante (IFCH - Unicamp)