A década é a de 70, o Brasil ainda se acostuma à ideia da nova capital, e os militares mantêm o país sob tacão autoritário. No bairro de Piedade, no Rio, numa casa próxima à avenida Suburbana, uma família de classe média recebe um primo para um pretenso tratamento de saúde — ao mesmo tempo em que outro parente se vê envolvido num pouco esclarecido assalto a banco. Aí está o mote para este Elefantes no céu de Piedade, novo livro de Fernando Molica, que com técnica maiúscula consegue aliar andamento de suspense a revelações às vezes doloridas.
Valendo-se de um narrador em primeira pessoa e que tem a um só tempo o olhar espantado e inocente da infância, Molica faz uma reconstrução de época preciosa, com direito a um divertido acervo de canções, de utensílios e principalmente de carros, material que faz contraponto ao angustiante, e muito surpreendente, andamento dos fatos.
Neste livro, Molica nos faz lembrar duas grandes virtudes da literatura: uma delas é que a literatura pode encantar seus leitores; a outra, é que a literatura não nos deixa nunca esquecer. (Cíntia Moscovich)