Partindo do bucolismo de um bairro rural da cidade de Monte Alto - SP, memórias de um adolescente se mesclam com seus conceitos adquiridos no processo de maturidade. Entre o jovem dos tempos rurais e o adulto que guarda até hoje um recorte de jornalsobre Marcel Proust (1871-1922), o autor perfaz sua busca pelo tempo perdido, sua leitura do clássico, o conhecimento vivo levado ao prosaico. Neste sentido, o leitor acompanha as mortes do protagonista, que o lança a novas vidas; a vivência rompe as barreiras da moral, do tempo e do espaço, questionando-os sempre de forma corrosiva, chocante. A aparente depressão do ainda ser humano que conduz a narrativa se revela, no decorrer dos escritos, como desprezo pelas bases com que se conduzem as sociedades: o individualismo insurgente na aparente comunidade (que se desfaz quando o capital entra em cena, por exemplo, comprando com naturalidade o sexo) e a gana pelo dinheiro e a valorização do material acima da dignidade humana. Chocar quem lê é ponto importante da obra 'Embrulhos' - cujo título traz várias leituras, surgindo do embrulho físico (que, por sinal, recobre a carne), ponto de partida para a retomada de Proust, até o desembrulhar dos véus que cobrem o ritual social, um trabalho deauto-conhecimento que revela a interioridade do ser, seja o quão tétrico for. Como o autor francês coloca, a busca é por uma "realidade escondida no inconsciente recriada pelo nosso pensamento"; este sim é o real, e não a mediocrização do consenso, a ditadura do pensar único que impera, promovida pelo poder da terra, da moeda, dos reis, das igrejas e da indústria cultural.