ENQUANTO HOUVER DESPERTAR

No poema título do livro a A., Conceição Albuquerque, já se envolve com o futuro de desejo, posto que, em havendo despertar, novos caminhos reinventaremos, na proporção em que viver é sentir e criar. Inclusive um desejo de clamar contra preconceitos e desajustes: ?expulso de mim as amarguras?. Formalmente, domínio absoluto das técnicas. A intensa musicalidade dos versos (v. O tempo e a vida e O vestido verde), onde não faltam os sintagmas fônico nem o diacrítico, se associa ao ritmo funcional em afinidade com a liberdade e variantes métricas ou rímicas. O sentir virá à tona, explícito, nos jogos sinestésicos de Perfume e ao longo do 1º núcleo temático, a exemplo de Paixão. O eu da A., que passeia sob distintos subjetivismos no livro, Individualismo, logo transcende para a Individualização, para o outro, em justa rendição à 3ª etapa da ontologia sartreana: o eu que se configura nós. Claro que o fio de nossa vida pode romper-se (Fio), mas, enquanto houver despertar e o fascínio do simples e trivial cotidiano (Sons) embalando os versos, haverá esperança, pois que a Arte é também a prevalência do simples e profundo. Humildes vestidos e sapatos novos notados.