EPIFANIAS DOMÉSTICAS

Há quase trinta anos o premiado fotógrafo, pesquisador, crítico, curador, jornalista e professor, Pedro Vasquez se deparou com o livro Photodiscovery: a century of extraordinary images, 1840-1940, uma obra sobre a história da fotografia organizada pelo fotógrafo Bruce Bernard. Pedro ainda tem viva a sensação que experimentou ao folhear as páginas do livro: “foi um forte impacto”. Eram os anos 80 - tempos saudosos da Galeria Fotoptica de São Paulo - e ele, então um jovem e talentoso fotógrafo, foi arrebatado para toda a vida pelas fotografias selecionadas por Bernard.

O fascínio de Photodiscovery persistiu em Pedro Vasquez ao longo das décadas. Suas experiências profissionais se ampliaram, vieram prêmios, Pedro escreveu livros, mas, feito brasa dormida, as imagens de Photodiscovery eram reavivadas de quando em quando por novas releituras ou o simples folhear da obra. Até que ele começou a escrever pequenos textos a respeito das fotografias que mais o sensibilizavam. Neste momento, nasciam, de forma inconsciente, os capítulos de seu vigésimo quinto livro e primeiro romance, Epifanias domésticas (Edições Pinakotheke). E o curioso: a série de epifanias domésticas, por alguma razão misteriosa, nasceu sob o ponto de vista de uma mulher pós-balzaquiana, entre trinta e cinco e quarenta anos! Uma personagem que vê a própria vida desfilar diante de si ao revirar a caixa onde guarda suas fotografias em agradável desordem.

A escritora e crítica de arte Susan Sontag defendia que a fotografia é a arte mais próxima da poesia. Para Pedro Vasquez Photodiscovery foi uma espécie de musa inspiradora. “É um dos melhores livros de fotografia de todos os tempos. As fotografias selecionadas por Bernard são, sem qualquer exagero, extraordinárias como promete o título, e o trabalho de edição de imagens é ousado e requintado. Ele compôs uma verdadeira sinfonia em imagens, orquestrada com absoluta mestria”, explica Pedro.

O mais curioso é observar que tanto Bruce Bernard quanto Pedro Vasquez são fotógrafos atentos as mensagens ocultas nas entrelinhas das fotos. Profissionais sensíveis a epifania de cada instante congelado no tempo. Dos instantes parados para sempre nas imagens de Photodiscovery, Vasquez fotografou com letras negras em papel branco uma mulher. E com ela um amante, a dor de partir, a amiga em despedida, lírios, margaridas, o milagre e a lua. Não necessariamente nesta ordem. Através da sensibilidade de Pedro Afonso Vasquez nasceu um livro para abrir com cuidado. Afinal, pode ser você a enxergar.