ESTUDOS SOBRE VIOLÊNCIA NO CAMPO BRASILEIRO

O que acontece no campo brasileiro, nos conflitos registrados com ocorrência de violência, está muito mais próximo às noções de “ameaça”, “pistolagem”, “emboscada”, “ataque”, “assassinato”, “massacre”, “terrorismo”, “construção do medo” e “resistência” do que à disputa entre duas partes conflitantes, lutando com as mesmas armas e com o mesmo poder e força por interesses diferentes. O conceito de conflito que tende ao entendimento de confronto não é um bom caminho para interpretar esta face da “questão agrária brasileira”. Na história da luta pela terra, a desigualdade de forças é o que marca o conflito e as disputas do começo ao fim. E o mais importante: quem pratica a violência, quem opta pela violência, quem a utiliza como estratégia e mediação é quase que inteiramente o lado do latifúndio e do empresariado rural/agronegócio, como pode-se constatar na base de dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino – CPT. Praticamente, o latifundiário não morre, mas mata; o camponês, o indígena e as populações tradicionais não matam, mas morrem. Por isso, não se trata propriamente de uma disputa entre dois lados opositores, mas de uma violência unilateral de um lado e da resistência das vítimas, de outro.