EXPEDIÇÃO ANTÁRTIDA

Desde os anos 1990, a repórter Luciana Garbin sonhava em visitar a Antártida. As expedições até a Estação Antártica Comandante Ferraz sempre foram muito restritas, destinadas exclusivamente para pesquisa e profissionais diretamente ligados a ela. Porém, em 2017, a Marinha do Brasil anunciou que levaria jornalistas para cobrir as obras de reforma da estação no extremo sul do planeta. Parecia ser a oportunidade perfeita para a repórter, que perseguia seu sonho.
Entretanto, os trâmites para uma viagem até o extremo sul do planeta são complicados. Há apenas uma pequena brecha anual em que os mares esquentam e é possível cruzar a camada de gelo até a Antártida, um continente que desperta interesse e fascinação. Assim, só em fevereiro de 2019 a viagem de Luciana Garbin, acompanhada do fotógrafo Clayton de Souza, se tornou realidade. Expedição Antártida – uma viagem pelo extremo sul do planeta trata disso.
Essa aventura contada em forma de diário é o novo livro da editora Letras do Brasil. Narrado em primeira pessoa, o volume vai muito além das reportagens publicadas no Estadão e traz a descrição do cotidiano e das dificuldades de uma travessia até a Antártida. Desde as falas do comandante da embarcação até as reflexões pessoais da autora, tudo narrado com sensibilidade e clareza. O leitor tem a sensação de estar à bordo com a dupla de repórteres. Há muita informação nos relatos.
Uma das grandes dificuldades de visitar a Estação Comandante Ferraz é o percurso. Depois do avião e do helicóptero, deve-se enfrentar uma longa viagem de navio até a nova base. O “Gigante Vermelho”, apelido do navio de apoio oceanógrafo brasileiro, também é palco de diálogos, memórias e avisos de perigo, como:“uma pessoa só consegue sobreviver 90 segundos se cair no mar gelado da região.” É de arrepiar. O mar sempre está em fúria naquela região. Os dias são de desafios e disciplina.
Em meio ao frio congelante, a autora consegue dar traços acalorados em sua narrativa ao destacar componentes humanos na expedição, como medo, receio, confiança. Junto das descrições de tirar o fôlego, estão os momentos de descanso, os cafezinhos com a tripulação brasileira e as risadas: alívios na tensão diária que o continente inóspito proporciona. “No meio do voo, pensei no meu casal de gêmeos, então com 5 anos de idade, e lembrei o quanto parecia arriscado estar ali tão alto, no continente com mais ventos no planeta”, narra Luciana, ao sobrevoar de helicóptero uma das ilhas da Antártida.
Além das descrições, mais de 30 fotografias coloridas de Clayton de Souza preenchem o volume com as cores frias e paisagens estonteantes do continente. A dupla se preocupou em registrar, além dos cenários naturais, os interiores das bases de operação e as personagens dessa expedição. Pesquisadores de todo o mundo estão em constante contato na região mais isolada do planeta. As histórias vão aparecendo no caminho da dupla. Expedição Antártida – uma viagem pelo extremo sul do planeta é livro para estar em sala de aula.
Após um período de isolamento global, a leitura de Expedição Antártida – uma viagem pelo extremo sul do planeta ressalta a importância do contato humano e a necessidade de preservar a tão inóspita terra do sul.