Este livro vai contra às narrativas com finais felizes e conclusões edificantes: aqui, a autora tece seus contos a partir de elementos ácidos e desconfortáveis, extraídos daquilo que parece frívolo e corriqueiro. Sua maior vítima é a relação entre mulheres e homens, e sua verve promove uma leitura inesperada das rotinas amorosas. Porém, mesmo partindo da voz feminina, os textos estão muito longe de serem feministas: a ironia da autora contamina todos os seus personagens. Esses se vêm presos a cenas familiares e pitorescas tragédias pessoais que revelam o incômodo, e até o grotesco, de suas miúdas vidas. A linguagem usada pela autora não poderia ser mais enxuta, uma linguagem "que preserva na frase apenas os venenos essenciais". A autora analisa friamente a vida a dois, a ausência do amor e o cinismo das mulheres diante de seus homens. A piedade com seus personagens não a impede de flagrar o ridículo de cada um deles: vem daí a ironia e o humor negro presente em todo o livro.