Ficção? Ensaio? Poema em prosa? 'O filantropo' parece participar a um só tempo de todas essas categorias, e essa promiscuidade de gêneros produz de imediato uma espécie de choque moderno. De autoria do crítico de arte Rodrigo Naves, são textos que tematizam atitudes éticas e vão rompendo as expectativas, os esquemas preconcebidos. Vão, em suma, restaurando na literatura a capacidade de surpreender. "Vistos mais de perto, tais textos só fazem acentuar a estranheza, uma vez que a organização do conjunto obedece a uma lógica perversa. Boa parte dos que são narrados na primeira pessoa vai como que compondo um personagem ao longo do livro, o "filantropo" do título, obsedado em estabelecer normas de conduta para si próprio, em pautar sua existência pela justa medida aristotélica. Mas de chofre esse narrador subjetivo transmuta-se numa freira em "Alvura". Mais adiante, aquilo que conduz à virtude segundo a moral de Aristóteles tem uma finalidade nada edificante no trato com meninas impúberes: "Elas se tornam impacientes quando ultrapassamos a justa medida" ("De doze anos")."
João Moura Jr.