Entre 1803 e 1805, ao que tudo indica e tanto quanto é possível determinar aproximadamente uma data, Friedrich Hölderlin traduziu e intitulou nove fragmentos de Píndaro, juntando a cada uma das peças um comentário em prosa. Estes textos, conhecidos como os Fragmentos de Píndaro - em algumas edições designados também por «comentários» ou «anotações» - são considerados não apenas como o último trabalho do longo percurso de Hölderlin como tradutor, mas muitas vezes também como a sua última «obra», intencional ou sistemática, antes do início do segundo período da sua vida em Tübingen, que se estende de 1806 a 1843. Pela concisão cortante da sua forma e pela força da reflexão lapidar que contêm, os Fragmentos de Píndaro constituem um objecto insólito e propriamente inclassificável no conjunto de tudo o que Hölderlin escreveu. Mas representam também um ponto culminante no seu confronto com a questão obsessiva e fundamental da relação do poeta moderno com a sombra, tão insuperável quanto incontornável, da Antiguidade.