Infeliz da nação que precisa de heróis. A frase de efeito de Bertold Brecht, no entanto, não traduz a estranha e absoluta sedução que essas figuras produzem no imaginário popular. A idéia do herói não seria tão perturbadora emocionalmente - ou tão politicamente perigosa - se não fosse tão potente. Heróis são pessoas dinâmicas e sedutoras. De outra forma não seriam heróis. E a fúria heróica é emocionante de se contemplar. É a expressão de um espírito soberbo. Associa-se à coragem, à integridade e ao desdém pelas mesquinhas concessões que permitem à maioria não-heróica ir levando a vida. Em 'Heróis', a jornalista inglesa Lucy Hughes-Hallett analisa a natureza do heroísmo na civilização ocidental e indaga: o que cria um herói? Ao narrar as vidas de oito excepcionais homens da história e da mitologia - Aquiles, Alcibíades, El Cid, Drake, Wallentein, Catão, Garibaldi e Ulisses -, ela recria as expectativas que deles tinham seus contemporâneos e reconstitui as maneiras como a posteridade reagiu a suas façanhas e as reformulou. A natureza e a função do herói modificam-se com a mentalidade da cultura que o produz, bem como as qualidades atribuídas ao herói, os feitos que se esperam deles e seu lugar nas estruturas política e social como um todo. Hughes-Hallett mostra, ainda, que as nódoas nestas extraordinárias personalidades não são defeito. Um herói, quando sua fama atinge um certo ápice, torna-se um totem, um objeto de poderes mágicos que não precisa agir para conquistar seus objetivos. Não se exige que heróis sejam altruístas, honestos e competentes. Apenas que inspirem confiança e que projetem uma imagem de grandiosidade. Na hora da necessidade deve surgir o homem certo. Catão foi possuidor dos mais elevados padrões éticos. Garibaldi possuía notável sinceridade. Alcibíades tinha fama de libertino, arrogante e um freqüente vira-casaca. El Cid, um guerreiro predador. Um herói precisa ser capaz de seduzir ou de intimidar.