HISTÓRIAS QUE VI

Em "Histórias que vi", João Ataíde convida o leitor a percorrer as vielas invisíveis de bairros periféricos em formação na Macapá dos anos 80. Com um olhar atento, o autor narra suas memórias de infância, quando ajudava sua mãe na lavagem de roupas, cortando bairros como Pacoval, Jacareacanga e Laguinho. Entre trouxas de roupa e sacos de manga, sua invisibilidade de menino o permitia observar e se encantar com o cotidiano de personagens igualmente invisíveis para a sociedade. Tacacazeiras, contadores de histórias, cachaceiros intelectuais, manifestações, partidas de futebol improvisadas e até mesmo os puteiros da região compõem o mosaico de vivências que ele testemunhou. Ataíde revela a riqueza que existe nos detalhes esquecidos da vida urbana, destacando o valor dos "invisíveis" da sociedade – trabalhadores que, embora fundamentais, são muitas vezes ignorados. Em uma narrativa marcada pela oralidade do sotaque macapaense e ao mesmo tempo contundente, ele reflete sobre a importância de enxergar e valorizar essas pessoas que contribuem para a construção e manutenção de uma cidade, mas que, assim como ele, passaram despercebidas. "Histórias que vi" é uma obra de homenagem àqueles que vivem à margem, mas cuja existência e trabalho são pilares fundamentais da nossa comunidade, convidando o leitor a olhar para além das aparências e a reconhecer a importância de cada indivíduo na construção de um mundo mais justo e inclusivo.