Seguindo o padrão alegórico dos últimos romances de Eça de Queirós, 'A Ilustre Casa de Ramires' narra a transformação moral de Gonçalo, herdeiro de uma tradicional família portuguesa. Entregue à inércia de um fidalgo decaído, o protagonista conquista forças imprevistas depois de concluir a redação de uma narrativa sobre seus antepassados medievais. Inesperadamente, então, consegue reprimir a insolência de um atrevido que o humilhara, reconquistando o respeito da população da vila. Como saída para o impasse financeiro de sua casa, entrega-se a um empreendimento agrícola na África, donde resultará o êxito de sua vida. Pela perspectiva simbólica do romance, Gonçalo Ramires é metáfora de Portugal, cujo sucesso depende do culto das tradições familiares e da exploração das colônias. O estilo do livro revela espantoso domínio do escritor sobre o idioma, do qual ele extraiu ritmos imprevistos, desenvoltura sintática e força na adjetivação. Na novela que Gonçalo escreve sobre seu antepassado Tructesindo ("Torre de D. Ramires"), Eça de Queirós imita ironicamente o estilo heróico do Romantismo, simulando, assim, o concerto de diferentes vozes no romance.