Edmond Fortier (1862-1928) nasceu na Alsácia e ainda jovem radicou-se na então colônia francesa do Senegal, mais especificamente em Dakar, onde trabalhava como fotógrafo, editor e pequeno comerciante. Viajando pela África do Oeste, captou com suas lentes um mundo de grande riqueza cultural, que passava então por importantes transformações. Deixou uma obra de mais de quatro mil imagens, a maioria delas publicada no formato de cartão-postal.
Fortier por duas vezes visitou a possessão francesa do Daomé, o atual Benim. Na primeira viagem, em 1908, integrou a comitiva do Ministro das Colônias, e na segunda, em 1909, a do governador-geral. Os documentos visuais produzidos nessas oportunidades, cuidadosamente aqui reunidos pela primeira vez, totalizam 210 imagens.
O olhar atento do fotógrafo gravou inúmeras vertentes da vida social, política e cultural na África ao tempo da dominação francesa. Imagens do Daomé: Edmond Fortier e o colonialismo francês na terra dos voduns, de Daniela Moreau e Luis Nicolau Parés, reúne registros das cerimônias oficiais, protagonizadas por mandatários locais e estrangeiros, das cidades e da população.
De todo o conjunto, destaca-se a série dedicada aos rituais voduns, uma das primeiras documentações fotográficas dessas práticas. A palavra vodum, em seu contexto original, designava os deuses das sociedades daquela região, ou “os mistérios das forças invisíveis”. Os panteões sagrados – do mar, do céu, da terra e do trovão, entre outras divindades –, com suas hierarquias e personagens, coreografias e adereços característicos, estão aqui detalhadamente identificados e analisados pelos autores.
Para o leitor brasileiro, o interesse dessas imagens é direto. Do Golfo do Benim e, a partir do século XVIII, do antigo reino do Daomé partiram para o Brasil milhares de escravizados, cuja devoção original aos voduns serviu de modelo ao nosso candomblé.
Edmond Fortier produziu um material de indiscutível valor histórico e etnográfico. Complexas e diversas, as práticas políticas, religiosas e culturais aqui documentadas abrem novas linhas de investigação sobre o Benim de ontem e de hoje, bem como sobre seus prolongamentos no Brasil.