Ao iniciar Histórias, em seu Proêmio, Heródoto se propõe a tratar das razões por que gregos e bárbaros se desentenderam. Despreza as tradições míticas, tratando relatos dessa natureza como incidentes banais, propondo-se a considerar os motivos verdadeiramente relevantes dessa disputa, sustentando suas explicações na razão e no comportamento humano. Atento a informações de caráter geográfico, etnológico, sociológico, religioso, Heródoto vai apresentando os povos, mas sempre conduzindo seu discurso em torno da figura do soberano, desde sua ascensão até sua queda. Esse soberano rei, tirano ou uma figura de destaque age de uma forma quase previsível. Em princípio, essa se interessa pelo bem-estar de seu povo; entretanto, com o passar do tempo, seu esforço transforma-se em ganância e em preservação de seu status. Na cegueira com que se entrega ao poder consiste a ironia, e é trágica, porque é um destino já pré-anunciado que o soberano, em sua condição humana, não consegue evitar.