JAIR GLASS

Jair Glass – Introduções a Escombros, resgata e registra a obra deste artista que, por mais de cinco décadas, vem se dedicando à exploração do desenho, com a criação de um universo e imagética de extrema originalidade. Além de conter texto crítico sobre sua produção, apresenta uma criteriosa seleção de obras e um depoimento do artista sobre sua história. Curador, colecionador, jornalista e crítico de arte, Olívio Tavares de Araújo perpassa importantes momentos da história da arte ocidental, com menção a filósofos, músicos e pensadores que se debruçaram sobre o assunto, para construir um caminho contundente que nos leva ao trabalho de Glass no campo da arte Fantástica. Neste passeio por momentos-chave das artes, o autor menciona técnicas e mestres fundamentais tais como Rembrandt, Van Gogh e Beethoven a Picasso; objeta a mitificação dos artistas e a materialização das artes pelo poder do mercado, para então sobressaltar a singularidade de Glass – tanto em termos do seu conjunto artístico, quanto na forma de ser e estar no mundo, mencionando inclusive sua timidez social. Nascido em 1948 na Vila Nova Curuçá, periferia de São Miguel Paulista, em São Paulo, Glass ganhou do avô, aos seis anos de idade, “um toquinho de lápis de cor azul”, com o qual desenhou pela primeira vez. Nesta região, que descreve como semirrural, interessou-se por gibis por volta dos quatorze anos, com especial apreço pelos desenhos, mais do que pelos textos. Por meio de publicações, conheceu grandes mestres da pintura italiana, como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Cimabue, Fra Angelico, entre outros. Quando foi publicada a coleção “Gênios da pintura”, [Ed. Abril] pôde então conhecer os modernos, como Matisse, Picasso, Braque etc. Aos 20 anos, começou com os primeiros desenhos; posteriormente foi aluno na Faculdade e Escola de Belas Artes de São Paulo (Febasp), e a sua primeira exposição ocorreu em 1975, aos 27 anos no Clube dos Artistas e Amigos da Arte (“Clubinho”), de São Paulo, iniciando uma carreira consistentemente reconhecida pela crítica e premiada, inclusive com o salão nacional de 1986. Segundo Tavares de Araújo, o traço de Glass “parece provir de inato virtuosismo”. O artista não parece preocupado com a elegância, algo comum à pintura e ao desenho. Realiza a fragmentação das figuras, cria quebras e hesitações da linha nos trabalhos, além de estimular alterações e texturas na superfície da obra. Por isso, Glass dá vida ao que chama de “estética da luta”, deixando “cicatrizes aparentes” em suas obras. Com trabalhos centrados sobretudo no humano, a presença do Fantástico posiciona os desenhos entre o sombrio e o erótico, conferindo um ambiente soturno à vida – enaltecido e divulgado ineditamente em edição caprichada e primorosa, à altura da trajetória do artista.