Ninguém ofereceu mais lições de esperança e desilusão aos brasileiros do que Jânio Quadros. Em apenas treze anos, o líder populista de São Paulo galgou os cargos de vereador (1947), deputado estadual (1950), prefeito (1953), governador (1954), deputado federal (1958) e presidente da República (1960), sempre defendendo a reforma política e a justiça social. Mal terminava os mandatos, antes de eles expirarem, licenciava-se, candidatava-se a um cargo superior e era eleito de novo, sucessivamente. Em 1960, Jânio inaugurou a democracia para valer no Brasil tornando-se o primeiro presidente oposicionista a tomar posse. Criticava a política, os políticos e os partidos e encarnava a idéia do governo centrista, modernizante em economia e implacável contra a corrupção. Para o eleitorado pobre da periferia de São Paulo, como o da Vila Maria, foi o herói mítico que roubou pela primeira vez o poder dos ricos para o povo. Entretanto, ao renunciar, em 1961, Jânio traumatizou o país, desencantou milhões e precipitou a crise democrática que culminou no golpe de 1964. Por sua contribuição à desorientação nacional e à desagregação das instituições, amargou um duradouro descrédito e acabou consagrado pelo avesso: virou a encarnação do político fraudulento, cínico, oportunista e ambicioso que combatera. Em 1964, foi cassado pelos militares e, em 1968, confinado. Vinte anos depois, voltou à política liderando um movimento “não contestador” numa sociedade sob ditadura. Perdeu a eleição para governador em 1982 mas em 1985 elegeu-se novamente prefeito de São Paulo à frente de uma coalizão conservadora, derrotando o reformismo dividido entre as candidaturas de Fernando Henrique Cardoso, do PMDB, e Eduardo Suplicy, do PT. A derradeira vitória do reformador radical foi um triunfo conservador. A vida de Jânio é um desfile de surpresas e de ironias.