Entre algumas questões disputadas da filosofia moral e política contemporânea está a da articulação entre a justiça e o bem. É principalmente em torno dela que se chocam as diversas correntes da filosofia prática, sobretudo aquelas que nutrem a discussão de forma permanente - a ética aristotélica, o utilitarismo e a teoria moral kantiana. Tomando como referências os pensamentos de Kant e de Rawls, dois importantes protagonistas envolvidos na querela sobre a relação entre o bem e a justiça e, à primeira vista, situados no mesmo campo de defesa da prioridade da segunda sobre o primeiro, este livro se propõe a questionar certos esquemas interpretativos rigidamente estabelecidos, notadamente o da incompatibilidade da ética utilitarista com o princípio kantiano de universalização. Nesse diapasão, o trabalho busca representar um esclarecimento do debate entre deontologismo e consequencialismo, fincado no ideal imperativo da moralidade que prevalece na modernidade em oposição à concepção atrativa da ética teleológica clássica. Sustenta-se na obra uma perspectiva não rigorista do deontologismo, mediante nova configuração dos elementos-chave do procedimento contratualista que permita, de um lado, superar a oposição entre as posições deontológica e consequencialista, e, de outro, enquadrar os marcos conceituais dessa disputa na fecunda controvérsia acerca do modo mais razoável de determinar quais consequências e resultados devem ser buscados pelos agentes.