MANTENHA FORA DO ALCANCE DAS CRIANÇAS

Nas páginas que seguem, cara leitora e caro leitor, você encontrará, além de microcontos, aforismos, anedotas e mesmo verbetes literários temperados com grande e vívida criatividade, leveza, em um pacto ficcional revestido por diversos saboes, alguns mais picantes e ardentes, outros mais doces e aveludados. A unidade conteúdo-forma, entretanto, sempre será um fio condutor das experiências de leitura que precisam ser moventes, maleáveis, perspicazes e atentas. Não há como passar impune pela leitura desses textos quando suas pontes são bem assentadas. Por eles passam a reinvenção do óbvio, a imaginação, os suaves, mas constantes intertextos, a experimentação linguística, a palavra-imagem, a dureza, o clichê e o necessário.



Marcelo Oriani se mostra em múltiplas faces-capítulos independentes, mas em nada desconectadas. A face Data de fabricação é uma entrega, um presente à leitora e ao leitor que chega. Um contrato. Como em uma fotografia 3x4, somos convidadas e convidados a chegar mais perto, a dar zoom em histórias que nos levam a biografias do outro que podem a qualquer momento ser nossas. Mal saímos desse passeio ficcional, a face Reações nos propõe a experiência da metamorfose de forma leve e doce, um pacto com a fantasia do cotidiano, com a reinvenção, com o riso que invade e mostra os dentes quanto mais nos distraímos. É curta como são curtos, breves, os sorrisos mais livres.



Na face Composição, nos movemos entre palavras-imagem, saltamos entre formas que se experimentam e renovam. Nas faces Precauções, Prazo de validade e Modo de usar, acomodamos a inquietação, sentamo-nos mais confortavelmente na poltrona, diminuímos o ritmo. E, fora da ordem, porque assim também pode ser a experiência de leitura, na face Contraindicação, bombas explodem a todo momento, o percurso minado é um desafio e um encanto. Ao voltarmos para nossa própria face-origem, entre Ofélias e tantas histórias, seguimos no incessante desejo onírico de que tudo ali se mantenha ficção. Esse desejo cresce em nós ao mesmo tempo em que seguramos na mão doce, gentil e inocente de Hilda: “Foi atingida por uma bala perdida enquanto brincava de amarelinha. Morreu sem chegar ao céu”. A você, leitora, a você, leitor, boa leitura. Recolho-me agora para que encontre sua própria face-livro inteira, essa imagem sempre incompleta e pronta para se despir.



Raphaelle Nascimento Silva