MARSÍLIO E O IMPÉRIO UNIVERSAL

Marsílio de Pádua realmente defende a inteira subordinação da autoridade espiritual ao poder político, desde os poderes locais ao centro da Cristandade, colocando assim, neste último patamar, o papa enquanto mero delegado do imperador. Dentro de sua perspectiva de reductio ad unum, o que de fato propõe é a reversão, em favor do imperador, da plenitudo potestatis papalis. Neste sentido, além do comando autônomo do domínio político, um controle indireto do domínio religioso, este pela ascensão do imperador sobre o Concílio Geral. Contudo, a pretensão marsiliana ultrapassa em muito os limites da Christianitas. A supremacia imperial deveria se estender sobre todos os homens que vivem em sociedade, cristãos e infiéis, ou seja, o imperador é, efetivamente, a única cabeça da Humanitas. Ademais, tal ideia de Império Universal não se trata de um domínio meramente de caráter jurisdicional; ao contrário, implica num poder efetivo, de controle coercitivo e administração sobre bens e pessoas.