MATAR O PAI

Os casos de Pablo, Bibiana e Erika aqui relatados mostram como alguns filhos e filhas denunciaram os próprios pais como repressores durante a ditadura militar argentina (1976-1983), manifestando-se publicamente a favor de serem julgados e castigados pelos crimes de sequestros, torturas e assassinatos cometidos contra opositores. A traumática descoberta, o sofrimento que lhes trouxe a brutal realidade e a luta que travaram por Memória, Verdade e Justiça dignificou a causa dos Direitos Humanos em todo o mundo. Porém, em nosso país, nenhum agente da repressão do período ditatorial pós-golpe civil-militar de 1964 foi levado ao banco dos réus e a impunidade permanece.

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Este livro está composto de três ensaios-reportagens a partir de entrevistas realizadas com Pablo Verna, Bibiana Reibaldi e Erika Lederer, ex-filho e ex-filhas de genocidas militares diretamente envolvidos com o terrorismo de Estado levado a cabo na Argentina entre os anos de 1976-1983.
Nos casos que abordamos, se trata da denúncia de Julio Alejandro Verna, médico militar traumatologista; de Ricardo Lederer, médico militar obstetra – ambos trabalharam no Hospital Militar de Campo de Mayo e nos voos da morte. Já no caso de Julio Reibaldi, se tratava de um oficial do setor de Inteligência lotado no temido Batalhão 601, e envolvido com as buscas e perseguições de militantes políticos durante a Operação Condor.
Pablo, Bibiana e Erika são corpos e vozes desobedientes, atores coletivos que se organizaram, desde 2017, em distintos agrupamentos políticos, e que se somaram a outros organismos de luta pela Memória, Verdade e Justiça. Trata-se, neste instante crítico, de evocar tais testemunhos a contrapelo, tamanha a força e pertinência do que enunciam.